Seu primeiro contato com a fungicultura foi no ano de 2000, quando no segundo ano de faculdade (cursando Engenharia Agronômica) iniciou um cultivo comercial de, na cidade de Tupã. Já formado, em 2005 foi para a Academia Russa de Ciência aprimorar seus conhecimentos micológicos. Durante os anos de 2006 a 2011 realizou seu mestrado e doutorado na UNESP de Botucatu (Módulo de Cogumelos), onde recebeu uma bolsa de estudos para ficar 1 ano na Universidad de Castilla-La Mancha e no Centro de Investigación, Experimentación y Servicios del Champiñón, na Espanha. Durante os anos de 2011 a 2013 recebeu o título de Pós-Doutorado em Microbiologia Agrícola. Atualmente é professor da UNESP de Dracena e coordenador do Centro de Estudos de Cogumelos (https://www.dracena.unesp.br/#!/laboratorios-de-pesquisa/centro-de-estudos-em-cogumelos/).
1. Tendo em vista que o senhor já foi produtor e atualmente é professor, como você vê a fungicultura brasileira ?
Resposta: A fungicultura brasileira pode ser visto das mais diversas maneiras possíveis. Uma característica específica que me chama a atenção é o grau de escolaridade dos produtores. Por mais que sua formação não seja na área da micologia, os produtores brasileiros se destacam, pois muitos possuem curso superior e pós graduação. Inclusive devido essa capacidade intelectual dos produtores, a fungicultura se mantêm no país, uma vez que sempre fomos deficientes no setor, desde a formação de alunos nas universidades, à quantidade de empresas que oferecem produtos e/ou serviços a fungicultura. Temos que nos reinventar a cada década para sustentarmos a atividade no país.
2. Quais seriam os caminhos para o desenvolvimento da fungicultura brasileira ?
Resposta: Primeiramente fortalecer a formação de recursos humanos, desde a formação superior até a nível técnico, de modo que, o produtor possa contar com o serviço de extensão/assistência de maneira sólida e confiável. Logo outro ponto crucial seria a disponibilidade/facilidade do fungicultor adquirir fundos de investimento que proporcionasse seu incremento tecnológico, a juros baixos e elevado prazo de carência. Outro ponto que pode ser importante para fortalecer a união dos produtores e proporciona-los um maior poder de compra e de venda, seria a organização em associações e/ou cooperativas. Eu entendo que se não começar a ocorrer certas ações nessa direção, logo não haverá mais pequenos fungicultores e apenas os grandes produtores sobreviverão. Entretanto para responder sua pergunta acho que seria necessário ouvirmos mais pessoas no nosso cenário, com diferentes pontos de vista, o que enriqueceria muito essa discussão.
3. O que é o Centro de Estudos em Cogumelos (CECOG) ?
Resposta: Em abril de 2014 eu fui aprovado em um concurso público para dar aula de microbiologia agrícola na Unesp (Câmpus de Dracena). Como tive grande parte de minha formação profissional na Unesp (Câmpus de Botucatu) e sabendo a dificuldade que passava aquele centro, com o preparo da aposentadoria da Prof. Marli Minhoni, resolvi tentar montar aqui em Dracena um centro que desse suporte a fungicultura. Mais tarde o Módulo de Cogumelos fechou, algo que nos traz profunda tristeza dentro da fungicultura, e que me fez ter força para tentar minimizar o possível, a perda do Módulo de Cogumelos, através das ações ainda tímidas que estamos realizando aqui no CECOG.
4. As pesquisas realizadas no CECOG pode ser utilizadas pelos fungicultores ?
Resposta: Sim, atualmente temos projetos e alunos trabalhando com shimeji, champignon, shiitake e blazei. De maneira breve os estudos envolvem: i) suplementação de substrato para a produção de shimeji; ii) avaliação da agressividade do “bob” nos cultivos de champignon; iii) verificação do efeito da moinha de carvão na formulação de substrato de shiitake; iv) caracterização de biomoléculas de blazei em cultivo à campo e em estufa. Caso algum leitor queira conhecer um pouco mais as pesquisas realizadas, favor verificar os sites https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/178066/diego-cunha-zied/ e https://unesp.br/portaldocentes/docentes/137746
5. Caso algum produtor tenha interesse em conhecer o CECOG, qual seria o procedimento ?
Resposta: É muito simples, basta me enviar um e-mail no endereço diego.zied@unesp.br que agendamos uma visita. O CECOG é uma unidade pública de ensino, pesquisa e extensão da UNESP (Universidade Estadual Paulista), aberta ao desenvolvimento técnico/científico do Brasil. Deve-se ressaltar que alunos de outros países também vem estudar no CECOG, o que fortalece o papel social da Universidade na formação de recursos humanos.
Resposta: É muito triste ver entidades que trabalhavam com cogumelos sendo fechadas, como ocorreu com o Módulo de Cogumelos e possivelmente pode ocorrer com outras instituições. Isso de certa forma também ocorreu no Instituto Biológico e no Instituto de Botânica. Talvez seja a hora de fortalecer a parceria público/privado, ou melhor, a parceria entre empresas de produção de cogumelos e as universidades/institutos de pesquisa. A união entre as partes que compõem a fungicultura é fundamental para a profissionalização da atividade. Inclusive existe um ditado muito praticado na Europa entre os produtores de cogumelos, que também pode ser utilizado aqui no Brasil, o qual diz “Nunca inicie um cultivo de cogumelos pensando numa remuneração momentânea, e sim, pensando em formar excelentes condições de trabalho a seus filhos e netos”. Ou seja, nenhuma empresa na fungicultura se consolida no mercado com menos de 25 anos de trabalho, o que me faz pensar que, se não haver uma organização do setor, infelizmente o mais ameaçado será o pequeno fungicultor.
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